Devo dizer, antes de mais, que este blog não se destina a denegrir, de forma alguma, a imagem que os ocidentais têm do Japão, apenas serve para dar a conhecer as diferenças que mais me marcam, enquanto portuguesa, no País do Sol Nascente.
Então para começar este relato pelo início, que é de onde todos os relatos devem começar, deixem-me dizer-vos que: "Eu avisei! Eu bem lhes tinha dito!". Para os que não sabem, os meus pais vieram visitar-me, em parte com saudades da filha adorada, em parte para verem a barriga (enorme!) e assistirem ao parto com os seus próprios olhos, porventura incrédulos de, ao fim destes anos todos, ainda haver esperança de que me reproduzisse. Fosse por que motivo fosse, o certo é que lá vieram. Aterraram em Osaka e depois dirigiram-se a Niihama, uma cidade da ilha de Shikoku que nem vem nalguns mapas. Mas a verdadeira questão que me levou a escrever hoje foi que eu tinha-lhes dito que era melhor trazerem já o belo do yene trocadito, para chegarem aqui e não terem problemas de dinheiro. Deviam pensar eles que eu brincava, que isto do Japão é um país do mais desenvolvido que há e que não haveria problema nenhum em trocar dinheiro, de mais a mais o dólar é divisa e qual é o país que não quer aumentar as suas reservas de divisa?
Pois é, um belo dia fui com a minha mãe a um banco, confesso que não é sequer o banco onde tenho conta, mas calculei que isso não levantasse questões de maior. Engano! Primeira barreira, a língua: o meu japonês rudimentar serve-me para a maioria das coisas mas o problema é que quando uma pessoa diz meia dúzia de palavras em nihongo eles pensam logo que somos fluentes e dão em disparar um sem fim de informação na dita língua, que é arrevesada que nem cornos, cheios de sorrisos e simpatias, que a boa educação impera por estas bandas, mas incompreensíveis para mim. Lá percebemos, mãe e filha, que ali, naquele dia, tava de chuva! Dinheiro nem pensar. E lá conseguimos sacar uma vaga informação de onde poderia ser que a troca se efectuasse.
A imagem que a minha mãe tinha do Japão começou a deteriorar-se ligeiramente e era vê-la a soltar chispas, enumerando a quantidade de caixas exteriores, tipo ATM que fazem conversão, dão dinheiro e ainda desejam boa-tarde, em quase qualquer banco português, em quase qualquer kimbo, para quem domina o kimbundo. Hoje lá a levei ao dito banco onde seria possível fazer a bendita da transação. Mais uma vez fomos muito bem recebidas, acreditem que a satisfação do cliente aqui não é brincadeira, pelo menos na maioria dos sítios, preenchemos o dito papelinho com todas as informações requeridas, demos o belo do guito e ficámos à espera de receber o correspondente em sonante japonês. A senhora que nos atendeu, que de inglês nem o costumeiro "Hero!" vou verificar a legitimidade das notas: 1º dirigiu-se a uma colega e mostrou-lhe o dinheiro, após o que conferenciaram um pouco; depois dirigiu-se a um outro balcão do banco onde penso que tivesse a lista das notas que podiam ser aceites e por fim ficou cerca de 2 minutos parada em frente a uns ursos de peluche vestidos de polícia, talvez perguntando-lhes qual seria o passo seguinte. Nós lá íamos achando estranho mas desde que nos dessem o dinheiro estava tudo bem. Quando ela se acercou a nós como veredito final é que foram elas: podia trocar a maior parte do dinheiro mas 2 das notas, tinha muita pena, mas não seria possível. Nós toca de pedir explicações em inglês e ela sem se poder exprimir na língua de Shakespeare, foi chamar o gerente do banco que nos explicou detalhadamente (e nós ainda com sorte de o dito senhor falar inglês, que o mais comúm é tal não acontecer): aquelas duas notas tinham uma numeração passível de ser usada por falsificadores e que eles não estavam autorizados a recebê-las, mas que nos dirigissemos a outro banco, nomeadamente o dos correios, que aí de certeza as receberiam de bom grado. Ainda tentámos dar a volta à situação, explicando que o mesmo banco nos tinha dado todas as notas mas foi em vão. Aparentemente aquela numeração não constava do manual deles, e acreditem que um manual é do qua mais sagrado existe para um japonês.
Enfim, já não foi mau terem-nos trocado parte do dinheiro mas fica desde já o aviso: tragam yenes se não se querem preocupar com dinheiros no Japão, e deixem-se lá das modernices do Visa e outros que tais que isso é muito bom mas é para inglês ver e por estas bandas é só mais um bocado de plástico.