Crónicas de longe

Notícias das lonjuras onde me encontro, crónicas e pensamentos de uma portuguesa perdida no mundo (e não só!)

Friday, July 13, 2007

A Saga do Dólar


Devo dizer, antes de mais, que este blog não se destina a denegrir, de forma alguma, a imagem que os ocidentais têm do Japão, apenas serve para dar a conhecer as diferenças que mais me marcam, enquanto portuguesa, no País do Sol Nascente.
Então para começar este relato pelo início, que é de onde todos os relatos devem começar, deixem-me dizer-vos que: "Eu avisei! Eu bem lhes tinha dito!". Para os que não sabem, os meus pais vieram visitar-me, em parte com saudades da filha adorada, em parte para verem a barriga (enorme!) e assistirem ao parto com os seus próprios olhos, porventura incrédulos de, ao fim destes anos todos, ainda haver esperança de que me reproduzisse. Fosse por que motivo fosse, o certo é que lá vieram. Aterraram em Osaka e depois dirigiram-se a Niihama, uma cidade da ilha de Shikoku que nem vem nalguns mapas. Mas a verdadeira questão que me levou a escrever hoje foi que eu tinha-lhes dito que era melhor trazerem já o belo do yene trocadito, para chegarem aqui e não terem problemas de dinheiro. Deviam pensar eles que eu brincava, que isto do Japão é um país do mais desenvolvido que há e que não haveria problema nenhum em trocar dinheiro, de mais a mais o dólar é divisa e qual é o país que não quer aumentar as suas reservas de divisa?
Pois é, um belo dia fui com a minha mãe a um banco, confesso que não é sequer o banco onde tenho conta, mas calculei que isso não levantasse questões de maior. Engano! Primeira barreira, a língua: o meu japonês rudimentar serve-me para a maioria das coisas mas o problema é que quando uma pessoa diz meia dúzia de palavras em nihongo eles pensam logo que somos fluentes e dão em disparar um sem fim de informação na dita língua, que é arrevesada que nem cornos, cheios de sorrisos e simpatias, que a boa educação impera por estas bandas, mas incompreensíveis para mim. Lá percebemos, mãe e filha, que ali, naquele dia, tava de chuva! Dinheiro nem pensar. E lá conseguimos sacar uma vaga informação de onde poderia ser que a troca se efectuasse.
A imagem que a minha mãe tinha do Japão começou a deteriorar-se ligeiramente e era vê-la a soltar chispas, enumerando a quantidade de caixas exteriores, tipo ATM que fazem conversão, dão dinheiro e ainda desejam boa-tarde, em quase qualquer banco português, em quase qualquer kimbo, para quem domina o kimbundo. Hoje lá a levei ao dito banco onde seria possível fazer a bendita da transação. Mais uma vez fomos muito bem recebidas, acreditem que a satisfação do cliente aqui não é brincadeira, pelo menos na maioria dos sítios, preenchemos o dito papelinho com todas as informações requeridas, demos o belo do guito e ficámos à espera de receber o correspondente em sonante japonês. A senhora que nos atendeu, que de inglês nem o costumeiro "Hero!" vou verificar a legitimidade das notas: 1º dirigiu-se a uma colega e mostrou-lhe o dinheiro, após o que conferenciaram um pouco; depois dirigiu-se a um outro balcão do banco onde penso que tivesse a lista das notas que podiam ser aceites e por fim ficou cerca de 2 minutos parada em frente a uns ursos de peluche vestidos de polícia, talvez perguntando-lhes qual seria o passo seguinte. Nós lá íamos achando estranho mas desde que nos dessem o dinheiro estava tudo bem. Quando ela se acercou a nós como veredito final é que foram elas: podia trocar a maior parte do dinheiro mas 2 das notas, tinha muita pena, mas não seria possível. Nós toca de pedir explicações em inglês e ela sem se poder exprimir na língua de Shakespeare, foi chamar o gerente do banco que nos explicou detalhadamente (e nós ainda com sorte de o dito senhor falar inglês, que o mais comúm é tal não acontecer): aquelas duas notas tinham uma numeração passível de ser usada por falsificadores e que eles não estavam autorizados a recebê-las, mas que nos dirigissemos a outro banco, nomeadamente o dos correios, que aí de certeza as receberiam de bom grado. Ainda tentámos dar a volta à situação, explicando que o mesmo banco nos tinha dado todas as notas mas foi em vão. Aparentemente aquela numeração não constava do manual deles, e acreditem que um manual é do qua mais sagrado existe para um japonês.
Enfim, já não foi mau terem-nos trocado parte do dinheiro mas fica desde já o aviso: tragam yenes se não se querem preocupar com dinheiros no Japão, e deixem-se lá das modernices do Visa e outros que tais que isso é muito bom mas é para inglês ver e por estas bandas é só mais um bocado de plástico.

Saturday, February 10, 2007

Os Portugueses mais conhecidos!

Foi com uma curiosidade extrema que saí à rua para fazer um inquérito junto da população local sobre Lusitanos famosos por estas bandas. E antes que alguma mente perversa se lembre de tecer considerandos menos próprios ou justos sobre a população de Ueno, cidade ninja, deixem-me que vos lembre que é uma pequena cidade rural de aproximadamente 65.000 habitantes.
Tendo em conta que o número de europeus é raro por estas partes (eu conto 3 e já me estou a incluir a mim) e que o rácio de estrangeiros em geral deve rondar os 0,001% , foi com agrado que verifiquei que alguns representantes da Tugaland não passaram despercebidos às mentes nipónicas das redondezas. Podem os portugueses pensar na Amália, Marisa, ou mesmo Wenceslau de Moraes. Contudo os nomes são outros.
Assim, ainda que para muitos um completo estranho (e que para outros responda ao nome de Ruishi Higo) Luís Figo é reconhecido por alguns pelo seu talento futebolístico incomparável. Também Kuristchiano Ronarudo (na Europa mais conhecido por Cristiano Ronaldo, ou o ex-bebé da Merche) é vagamente familiar aos ouvidos dos herdeiros da tradição ninja. Mas a verdadeira estrela representante da Pátria Lusa é sem dúvida o Mateus Rosé. Pode ser facilmente encontrado nalguns supermercados da zona e é até apreciado. Para muitos desconhecido na sua própria terra natal (um lugar cada vez mais comum) faz sucesso no estrangeiro por onde passa. E se repararem no preço, o bilhete para o ver de perto nem é assim tão barato. Pergunto-me onde anda o seu companheiro de aventuras, o Lancers, mas ainda não desisti de procurar por ele.

Friday, February 09, 2007

Marie Antoinette

Na pequena cidade onde vivo, Ueno, estava em cartaz um filme que me pareceu interessante. Dado que gosto de filmes com conteúdo histórico resolvi ir ver a estreia da Sofia (Coppola) e do pai, crendo que seria bom ver algo de novo sobre um assunto já tão batido da história da França.

Pois bem, novidades não houve muitas, a não ser que Luís XVI era pouco dado às façanhas do sexo, embora a sua querida esposa não fosse tão modesta em partilhar as suas graças. Enfim, muito cão artista na tela a comer do prato da monarquia, e nada de espectacular em relação às interpretações, e muito menos em relação à história. Não sou grande cinéfila nem tenho pretensões a ser uma alta entendida na crítica cinematográfica, mas sei do que gosto. E este filme ainda ía a 3/4 e já eu pensava: grande estopada!, e chorava os quase 9 euros que me custou o bilhete (e isto porque fui no dia mais barato que é à quarta-feira, calho de ir noutro qualquer dia da semana e a expressão "custou-me os olhos da cara" já não exprimiria o valor exacto do bilhete, if you know what I mean!).

Moral da história, se querem saber a minha opinião, não vale grande coisa, este novo filme. E não sei como andam as críticas aí pela Tugas mas as que vi na net só faltava candidatarem o filme para os Oscars. Falavam do grande talento da realizadora em retratar fielmente a futilidade da vida da Antoinette, mas eu pergunto, "Oh Sofia, e para isso era preciso fazer um filme fútil?" Pode ser que o meu gosto esteja estragado! Se quiserdes, ide, mas ide com cautela!

Labels: ,

Tuesday, January 23, 2007

WC

Começarei a escrever neste blog com um tema que poderia não suscitar muitas dúvidas: o uso do WC. Serve para sanar algumas necessidades fisiológicas básicas do ser humano, que não refiro por serem demasiado óbvias. No nosso Portugal o equivalente doméstico, a chamada casa-de-banho, contém também todo o equipamento necessário para se poder, tal como o nome indica, tomar-se um merecido, e por vezes necessário, banho. Ora, para um viajante mais ou menos experiente as coisas não serão tão simples assim, e aqui pelo Japão as coisas não funcionam bem da mesma maneira. Não me interpretem mal, o WC continua a ter a mesma função de facilitar e aliviar nas descargas diárias do nosso corpo, mas existe uma ligeira diferença em relação à disposição das cerâmicas. Então, a sanita não se encontra no mesmo compartimento que a parte do banho, provavelmente respondendo a razões que a lógica (e o olfacto) consegue bem abarcar. Calculo que todos já tenham tido experiências menos agradáveis às narinas no que toca ao uso da referida divisão. Como tal, os japoneses pensaram, e bem, "Vamos lá separar esta treta!" e puseram uma parede (fininha, que aqui as paredes parecem de playmobil) entre os dois. De um lado fica uma sanita toda hi-tech (se tiverem a sorte de morar numa casa menos antiga ou com um senhorio menos forreta no que toca a obras), que vos aquece o rabiosque, dá um jactinho de água para as partes mais íntimas do corpo (à frente e atrás), tampo aquecido, quando se puxa o autoclismo os até recentemente indesejados conteúdos do nosso corpo "vão com a onda" mas também é activada uma torneira que se encontra no tampo do mecanismo. Ou seja, a água que usamos para lavar as mãos após o acto de glória é a mesma que vai encher o depósito (engenhoso, não?) e até ouvi dizer que muitos idosos adquiriram o modelo super hi-tech que envia um email ao seu médico com o resultado das análises dos devidos dejectos de cada vez que utilizam a "porcelana", indicando o seu estado de saúde e se a medicação receitada é a mais adequada! Para aqueles que não têm tanta sorte, ou têm um senhorio mais forreta, ou ainda são eles mesmos mais forretas (o que não existe muito por estas bandas, esta gente ADORA consumir) há a versão medieval, uma sanita em cima de um buraco que leva a um depósito onde todos os humores são depositados até que o devido serviço (que se faz cobrar também devidamente) venha recolhê-los com a ajuda de um aspirador específico para o efeito. Se pensarmos bem, esta é a versão WC dos consertos só que aqui não nos dão música! Mas até aqui tenho falado de versões domésticas. Ora, as versões públicas normalmente são algo diferentes. Então, contrapondo aquilo que por aqui é conhecido como estilo ocidental, está a versão que corresponde ao estilo oriental. Não constitui um grande desafio para as mulheres, ao contrário daquilo que a imagem pode fazer supor, até porque aqui toda a gente está habituada a agachar-se, não estivessemos no Japão, e quem não está aprende depressa, à força de tanto querer poupar meias e sapatos dos inevitáveis pingos. Mas para que não haja enganos, cada uma das versões está devidamente identificada, não vá o diabo tecê-las e alguma dama ocidental menos atenta tentar sentar-se "onde não deve"!

Labels: ,